O pensamento positivista, fundado por Augusto Comte (1798-1857) compõe um dos pontos nodais da critica de Sartre (1905-1980) à questão da determinação. Ao que nos consta saber, o pensamento positivista consolidou a concepção burguesa de educação que por sua vez é o principal objetivo das considerações refutativas do filósofo francês contemporâneo no texto Determinação e liberdade publicada na obra Moral e sociedade em 1966.
É possível encontrar duas fortes semelhanças entre a psicologia do século 20 (Piaget, Kurt Lewin) e a educação positiva: o do uso da moral na constituição psicológica do individuo e suas interações sociais e do critério da previsão cientifica para determinar as condições de ação do individuo no mundo. Ao prevermos cientificamente as ações humanas, não haveria mais a necessidade de se preocupar com o sujeito, visto que este seria destituído pelo caráter normativo dos costumes, isto é, o sujeito seria necessária e objetivamente o que a norma determinasse.
Se pegarmos, por exemplo, o lema da bandeira brasileira Ordem e Progresso ("O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim") como um dever de todo brasileiro em voltar suas ações unicamente para o estabelecimento tanto da ordem (política, moral e social), quanto do progresso (material, intelectual e moral), não encontraremos nada além dos fatos e dos costumes sendo praticados pelos homens e, assim, não haveria mais sujeitos na situação.
O problema maior da educação no viés positivista é que confere um poder moral inegável ao professor (tratado como um instrumento da instituição) e destitui o aluno como sujeito de si. Segundo Sartre: “...o aluno atento que quer ser atento, o olhar preso no professor, todo ouvidos, a tal ponto se esgota em brincar de ser atento que acaba por não ouvir mais nada”.(Sartre, O ser e o nada, 1997, p. 107). Nesse sentido, torna-se imprescindível levantar os seguintes questionamentos: não seria a educação burguesa positivista um fio condutor da má-fé? Em outras palavras, o processo educacional, quando visa formar um sujeito, não está agindo de má-fé, fazendo a pessoa enganar a si mesmo? Ou, ainda, frente ao nada do sujeito, a educação não contribui para a má-fé ao se propor como caminho para a formação de um sujeito?
Tais questões se tornam necessárias para propor a discussão.
Referências
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. Trad. Paulo Perdigão. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
______. Determinação e liberdade. In: Moral e Sociedade, São Paulo: Paz e Terra, 1984.
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